Ouvi rádio indo para o trabalho hoje. Não interessa aqui citar o programa ou o apresentador, quero apenas ressaltar as idéias ouvidas.
O apresentador começa o programa falando da notícia de ontem no Washington Post de que o Rio de Janeiro é muito violento e que aqui se morre cedo. Ele critica o armamento da população americana (a Suíça deve ser uma exceção, claro) e a cultura de fazer filmes super violentos (esquecendo de mencionar que os filmes mais mela-cuecas do mundo também são americanos - para ele, filme só influencia quando é violento. Quando é para mostrar a relação entre dois homossexuais, um caso de amor em um navio naufragando ou a luta de um pai para dar uma vida digna ao filho, a regra não vale). Anti-americanismo é pouco para descrever as coisas ditas.
O apresentador passa então para a ironia de que essa notícia saiu no mesmo dia em que houve mais um tiroteio em uma Universidade americana (curiosamente bem perto da sede do jornal), relatando que até um jornal de grande circulação no Rio de Janeiro, colocou na edição de hoje, uma matéria chamando a atenção do Washington Post para que se preocupe com a violência que acontece ao seu lado e não com as coisas que acontecem no Rio. Ressalta ainda que a violência americana é fruto de filmes violentos e a carioca é fruto de desigualdades sociais, "coisa que não existe nos EUA". Aparentemente, para ele, aqui se mata porque é pobre (com uma declaração dessas não sei porque esse mesmo apresentador - e já ouvi isso - se espanta com pessoas que criam grupos de extermínio de pobres).
Como "alegria" de corno dura pouco, em 2 minutos entrou um repórter relatando o tiroteio que acontecia no Catumbi (que já tinha deixado um trabalhador ferido), próximo ao Túnel Santa Bárbara, uma das principais vias do carioca para chegar ao trabalho. O tiroteio era devido a uma invasão de morro por uma facção criminosa rival (isso é que é desigualdade social), que agora encarava a polícia militar. Junte isso ao engarrafamento monstruoso no local que impedia as pessoas de acharem uma saída.
Antes que a situação piorasse com as suas declarações, o apresentador calou a boca e o programa virou um canal direto para o local do tiroteio, onde se ouviam balas sendo disparadas a esmo.
Mesmo estando longe, a sensação era terrível. Nem imagino o que se passava na cabeça de quem estava lá. E o pior é ter que saber disso de um apresentador que resolveu ficar de picuinha com os EUA só porque eles fazem filmes violentos e, "assim aumentam a criminalidade" enquanto que o país de "Xuxa e os pigmeus (ou duendes, sei lá)" e o "Fantasma Trapalhão" "vive em paz".
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