quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Sinuca de bico

Não sou lá muito versado em Economia, mas me interesso bastante pelo assunto.

A notícia agora é a Crise Americana. Fannie Mae, Freddie Mack, Lehman, Merryl Lynch já se tornaram nomes conhecidos na imprensa.

Vi a opinião de muita gente. A maioria defende a ajuda que está sendo dada pelo Governo Americano.

Entretanto, alguns defendem que o Governo Americano deveria sair fora e deixar as empresas quebrarem.

Eu concordava totalmente com esta última idéia até começar a ler os artigos de quem era contra a ajuda governamental.

Pelo que li dos artigos (como este, este e este), a ajuda governamental irá agravar a crise. Ocorre que, pelos mesmos artigos, quem criou a crise foi o próprio governo.

O problema que vejo é, se o governo (FED, ajudas, subsídios, etc) for mesmo a causa da crise, não faz sentido para mim que ele, agora, deixe as empresas quebrarem.

Ora, fica parecendo aquele chato do futebol, que vem correndo e dá um chute como se fosse fazer o maior gol do mundo. O chute sai errado. A bola vai parar uns 15 km dentro do mato. Ao invés de ir buscar a bola (como é a regra implícita do mundo: Fez a cagada, agora limpa. Ou em inglês: You break it, you buy it), o chato olha para todo mundo, dá de ombros, e diz: "A bola não era minha mesmo". E o jogo acaba.

Junto isso com a idéia (acho que Milton Friedman disse isso) de que a responsabilidade social de uma empresa é gerar lucro para seus acionistas. Ou seja, se o governo quer favorecer uma empresa aumentando os seus lucros mediante subsídios, garantias e etc. não vejo motivo para a empresa recusar a garantia. Se a garantia dá lucro ao acionista, a empresa deve aceitá-la.

Assim, a idéia de que as empresas devem quebrar só parece ser válida se o mercado fosse efetivamente livre. Pois tudo se resumiria a ineficiência da empresa.

Mas como o governo, pela manipulação da taxa de juros, emissão de moeda sem lastro, concessão de empréstimos a taxas subsidiadas e outras coisitas, está frequentemente intervindo no mercado, parece ser um pouco radical querer que o mesmo governo que alterou todos os indicadores do mercado, iludiu as pessoas e criou uma confiança sem base na realidade, agora desse de ombros e dissesse: "O dinheiro não era meu, mesmo".

A sinuca de bico é a seguinte: Se o contexto é realmente o que eu tenho lido, as empresas que quebram não são ineficientes. Na verdade, a sua eficiência nem entra em jogo. Elas vivem num mundo em que o governo intervem frequentemente e de diversas maneiras na economia, alterando diversos indicadores que são importantes para a tomada de decisões das empresas. Como o mercado é manipulado pelo governo, os indicadores, embora falsos, são os únicos disponíveis para a tomada de decisões. Como a realidade acaba por vir "descontar o seu cheque", ocorrem diversas situações que jamais se refletiram nos indicadores (ou seja, as empresas eram as mais eficientes possíveis, dadas as informações disponíveis) que levam as empresas à falência. Como tudo isso foi gerado pelo governo, bom... you break it, you buy it. Aumentando a intervenção.

Não seria melhor (embora díficil, eu sei) que os liberais (que criticaram a ajuda governamental) descobrissem um jeito de responsabilizar diretamente os agentes do governo (cortes orçamentários, obrigatoriedade de redução da folha de salários, etc. toda vez que essas situações ocorrem) responsáveis pelo desastre, ao mesmo tempo que exigem a retirada do governo da economia, ao invés de simplesmente dar ao governo subsídio para "não ir buscar a bola no mato" e deixar as empresas quebrarem?

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