domingo, 12 de agosto de 2007

Demonize everybody

Tive conhecimento desse texto do Fred Reed por aqui. Ele levanta uma dúvida interessante, mas o que me estranha nele é o tom.

Não sou leitor do Fred Reed, então a análise fica restrita ao texto e não à pessoa.

Pelo visto a fórmula do texto é: "Você é um desgraçado sem coração, que não se importa com ninguém, mas que se esconde atrás de uma superioridade inexistente". Admita isso e todos irão compreendê-lo (apesar de saberem que você é o próprio anti-cristo). Negue e, por conseqüência, defenda a "socialized medicine".

De cara, dá para perceber que tem algo errado na lógica do texto. Entretanto, como o tema é polêmico, acho que cabe algumas considerações.

A primeira é a seguinte. Se quem não quer ajudar a velha que está com a retina descolando por causa de diabetes está dizendo "screw 'em, i ain't paying a red cent", então o que dizem as pessoas que ajudam a velha, ao invés de ajudarem uma criança morrendo de fome? "Screw 'em, i ain't paying a red cent"? É isso mesmo? Ele acha que simplesmente por ajudar uma velha ele não tem que ajudar uma criança? Uma velha com diabetes é mais helpless do que uma criança com fome? So much for a moralist, right?! Pode dizer: "mas pelo menos estou fazendo a minha parte". Seguindo a linha de pensamento de Reed, isso é o mesmo que dizer "screw' em, I ain't paying a red cent".

Em segundo lugar, o fato de alguém estar mal justifica o crime? O fato de uma velha estar doente justifica você roubar o dinheiro que pessoas trabalharam para conseguir para ajudá-la? O fato de pessoas terem dinheiro e trabalharem significa necessariamente que elas não precisam do dinheiro que ganham? Pelo visto, no texto do Reed isso não é uma coisa importante. Se tem alguém passando mal, tudo é justificado.

E se justificar, voltamos ao primeiro ponto, quem será atendido? Quem escolhe a pessoa que deve ser atendida? O que vale mais: Ajudar a velha ou uma criança? Infelizmente não dá para ajudar todo mundo. Alguém vai ficar de fora. Quem será? E o que dizer a eles? "Screw 'em, I ain't paying a red cent"?

Faz diferença o passado da pessoa? Você ajudaria um Hitler só porque não tem dinheiro para se tratar ao invés de um adolescente preguiçoso que prefere roubar do que ter que trabalhar?

E porque achar que quem não ajuda está necessariamente dizendo "screw 'em". That sounds a little harsh.

I think Reed needs some therapy to deal with this issues. O fato de alguém estar mal não é culpa sua. E o indivíduo não é responsável pelo bem geral do mundo, no sentido de que ele precisa ajudar o mundo inteiro antes de fazer algo por si mesmo. Ele acha que todo mundo agora deve se sentir culpado porque comprou um MP3 player ao invés de doar o dinheiro para a velha diabética?

Não é uma questão de "screw 'em". Muitas pessoas vão pensar que podiam ajudar o mundo inteiro. Mas isso é impossível para o indivíduo. Não é uma questão simplesmente de dinheiro, mas de atender necessidades. Se passar a vida inteira para atender os outros, chegará ao ponto em que alguém terá que me atender. Não é mais fácil eu mesmo fazer isso? Eu sei melhor do que ninguém o que quero. Pelo menos a priori. O fato de eu errar no meu julgamento sobre mim não é muito melhor do que outros que nunca vi na vida errarem no seu julgamento sobre mim. E com certeza, muitas pessoas se sentem mal por não ajudar os outros. Só que se ficassem se remoendo por causa disso o dia inteiro provavelmente não conseguiriam ganhar o suficiente para ajudar os outros. E antes de ajudar os outros, ela tem que ajudar a si mesma.

E quanto ao ponto da democracia (que parece ser a base da socialized medicine)? Se a maioria não quer ajudar, você vai forçá-la a ajudar? Só porque você é minoria, isso lhe tira a capacidade de defender a causa em que acredita ou de divulgar que pessoas precisam de ajuda? Se a maioria quer ajudar, porque ela não ajuda ao invés de obrigar os outros a ajudar? Sendo maioria a força de persuasão sobre uma minoria é bem maior do que o contrário. Porque usar o Estado, em qualquer dos casos, para obrigar pessoas a fazer o que não querem?

Existem vários outros pontos que podiam ser levantados, mas não estou com vontade para isso. O que sobra é apenas uma resposta ao título do texto do Reed.

Screw you (not them, just you)! If you want to date Hillary, fine. Just don't make me go out with her too.

Um comentário:

Anônimo disse...

Texto genial.

Eu costumo dizer que o indivíduo, se for de sua vontade livre, tem direito até a se submeter como um escravo a quem desejar. Porém não tem direito algum de arrastar outros para a escravidão.
Se alguém quer ajudar o mundo, então que "faça a sua parte", mas que não inclua os que não querem nela.
Ora, um sujeito na somália tem 12 filhos, e será o canadense que só tem 1 ou 2 que será responsabilizado pela irresponsabilidade e ignorancia do somali?
...que porra de idéia de justiça é essa?
Necessidade não é mérito.
Se os filhos não têm culpa, o canadense também não. Logo, não se tem que atuar para coagir o canadense, mas sobre o verdadeiro culpado.
Assim, se não é justo em teoria, a utilidade prática de tal cretinice se revela o oposto: se todos percebem que podem fazer o que quiserem para lançar a responsabilidade sobre os demais, é certo que o caos se estabelecerá.

Ou seja, tais coisas não visam solução alguma, nem mesmo a sinceridade de propósitos, pois não se pode atender todos, e isso serve apenas como justificativa para o Poder estatal e nada mais. Esse é o objetivo, antes mesmo daquele de se ostentar "nobres sentimentos" ante a moral politicamnte correta que os valoriza.
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"Existem vários outros pontos que podiam ser levantados, mas não estou com vontade para isso. O que sobra é apenas uma resposta ao título do texto do Reed.

Screw you (not them, just you)! If you want to date Hillary, fine. Just don't make me go out with her too."

Show!

Abraços
C. Mouro